Indústria bélica, que tem sede em Jacareí, vive grave crise financeira. Com o plano aprovado, agora a proposta será apresentada na Justiça, para ser homologada.
O plano alternativo de recuperação judicial da Avibras, indústria bélica com sede em Jacareí (SP) e vive uma grave crise financeira, foi aprovado na tarde desta segunda-feira (26), durante assembleia com os credores.
De acordo com informações do Sindicato dos Metalúrgicos, que representa os trabalhadores da Avibras, o plano aprovado na assembleia foi proposto pela Brasil Crédito – a empresa é uma das credoras da Avibras e tem a intenção de adquirir a fábrica.
O plano prevê a destituição do atual proprietário, João Brasil Carvalho Leite, e a nomeação judicial de um interventor. A reunião foi realiza em formato virtual.
Com a aprovação do plano, agora a proposta será apresentada na Justiça, para ser feita a homologação judicial dos termos acordados. Ainda segundo o sindicato, a greve dos trabalhadores foi mantida.
Além do plano alternativo de recuperação judicial, o Sindicato e a Brasil Crédito negociaram nas últimas semanas os termos relativos ao pagamento das dívidas trabalhistas para o retorno dos trabalhadores à fábrica, que estão em greve desde 9 de setembro de 2022.
No plano de retomada, ficaram acertadas as seguintes condições:
- parcelamento em 48 meses dos 25 salários, 13º, férias e FGTS que estão atrasados;
- conversão das multas trabalhistas em 10% das ações da Nova AVB, quando acontecer a abertura de capital social;
- todos os trabalhadores que retornarem à fábrica terão seus direitos preservados;
- estabilidade no emprego por no mínimo 90 dias.
Sediada em Jacareí, a Avibras é uma das maiores indústrias do setor de defesa militar do país, mas enfrenta grave crise financeira há quase três anos e solicitou recuperação judicial, alegando dívidas de cerca de R$ 600 milhões.
Por meio de nota, a Avibras informou que “a companhia se posicionou contrariamente à deliberação do plano alternativo proposto pela Brasil Crédito” e que, “apesar de respeitar a decisão soberana dos credores, que optaram por dar andamento à votação e aprovar o referido plano, a Avibras entende que o ato foi revestido de diversas nulidades, as quais serão oportunamente submetidas ao crivo do Poder Judiciário”.
Ainda segundo a empresa, “a Avibras reitera que o investidor árabe Black Storm permanece comprometido com a aquisição da companhia, com previsão de aporte imediato de recursos financeiros. A efetivação dessa operação poderá alterar significativamente o cenário atual da recuperação judicial, criando perspectivas mais favoráveis para a continuidade das atividades da empresa e para o pagamento dos credores”.
Por fim, a empresa disse que “segue focada na viabilização dessa operação, por entender que ela representa a melhor alternativa para a superação da crise e a quitação das dívidas com os credores”.
O g1 acionou a defesa de João Brasil, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem. A matéria será atualizada caso os advogados se manifestem.
Negociações para venda
No ano passado, a Avibras chegou a negociar a venda para uma empresa australiana e, depois, para uma empresa brasileira, mas as duas tratativas fracassaram.
Já em janeiro deste ano, a Avibras anunciou novas negociações com uma empresa saudita. Segundo o comunicado, as tratativas eram ‘avançadas’ com a empresa Black Storm Military Industries. Até o momento, porém, a venda não foi concretizada.
Crise da Avibras
Confira a linha do tempo da crise e da situação da Avibras:
- março de 2022: a Avibras pediu recuperação judicial alegando uma dívida de R$ 600 milhões
- setembro de 2022: os trabalhadores entraram em greve por causa dos atrasos nos salários
- julho de 2023: o plano de recuperação judicial foi aprovado
- abril de 2024: a Avibras anunciou que negociava a venda para a empresa australiana Defendtex
- junho de 2024: a Defendtex desistiu da compra
- junho de 2024: o Ministério da Defesa informou que a Avibras havia recebido nova proposta, desta vez de um possível investidor chinês
- outubro de 2024: a Avibras afirmou que negociava com um investidor brasileiro
- dezembro de 2024: o investidor brasileiro desistiu do negócio
- janeiro de 2025: novas negociações, dessa vez com uma empresa saudita
- maio de 2025: credora da Avibras, Brasil Crédito anuncia intenção de comprar a empresa.
Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, a dívida adquirida pela Avibras durante o período de recuperação judicial – de 2022 para cá – é de mais de R$ 320 milhões.
Quando o processo de recuperação começou, a empresa de Jacareí tinha cerca de 1,4 mil funcionários. Atualmente são cerca de 900 funcionários, que estão em greve desde setembro de 2022.
A Avibras
A Avibras Aeroespacial é a maior indústria bélica do país e foi fundada em 1961 por engenheiros do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), de São José dos Campos. Ela é uma das primeiras empresas nacionais a atender o setor aeroespacial.
A empresa desenvolve tecnologia para as áreas de Defesa e Civil. A organização foi uma das primeiras no Brasil a construir aeronaves, desenvolver e fabricar veículos espaciais para fins civis e militares.
Presente no mercado nacional e internacional, a empresa tem sede em Jacareí, no interior de São Paulo, e desenvolve motores de foguetes para as forças armadas, entre outras coisas.
Fonte: G1