A tarifa de 50% afeta diretamente a dinâmica econômica do setor ao distorcer mercados, pressionar preços e reduzir incentivos à exportação
Em julho de 2025, os Estados Unidos anunciaram a aplicação de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil, incluindo o açúcar e o etanol, em retaliação à questões diplomáticas. A medida, considerada um “tarifaço” pelo setor e que entra em vigor no dia 6 de agosto, impõe prejuízos diretos e indiretos à cadeia sucroenergética nacional, com efeitos particularmente significativos nas regiões mais vulneráveis e em desenvolvimento, como o Nordeste brasileiro.
Segundo estimativas da Datagro, a tarifa adicional de 50% anunciada por Donald Trump poderá representar um custo adicional anual de aproximadamente US$ 27,9 milhões (R$ 153,4 milhões na cotação atual) sobre as exportações brasileiras de açúcar realizadas através da cota tarifária norte-americana. O cálculo considera um volume de 150 mil toneladas contratadas, com preço médio de US$ 371 (R$ 2.040) por tonelada, sujeitas à nova alíquota de 50%, que deverá ser anulado pela sua inviabilidade financeira.
Com a adoção dessa nova política comercial pelos EUA, cresce a preocupação de que medidas semelhantes venham a ser estendidas a outros produtos brasileiros, ou que o ambiente regulatório se torne ainda mais restritivo, colocando em risco até mesmo os atuais embarques de açúcar para o mercado norte-americano.
O Brasil e mais 38 países exportam açúcar aos EUA por meio de uma cota preferencial, que oferece diferencial tarifário, permitindo que 1,3 milhão de toneladas de açúcar ao ano entre no país, sem pagar o imposto de 80%. Essa isenção ocorre desde os anos de 1960. A cota parte do Brasil é de 15%, sendo atendida por 50 usinas produtoras do Norte e Nordeste, que produzem cerca de 3,6 milhões de toneladas de açúcar por ano.
A receita de exportação com a cota americana representa expressivos 20% do total das receitas com exportações de açúcar do Nordeste, sendo bastante representativa para a geração de renda e de postos de trabalho em uma região historicamente carente e que portanto, constitui um grande alicerce para o sistema de produção agrícola e industrial regional.
Ainda que o etanol produzido no Nordeste não tenha como destino os EUA, a tarifa de 50% imposta afeta diretamente a dinâmica econômica do setor sucroenergético nordestino ao distorcer mercados, pressionar preços e reduzir incentivos à exportação e à expansão produtiva.
Nesse contexto, os EUA também buscam negociar a abertura do mercado do etanol no Brasil para a entrada do etanol de milho americano, o que aumentaria ainda mais os impactos no mercado do Nordeste, já em forte transformação em função chegada da produção de etanol de milho a partir das novas plantas instaladas e em fase de implantação.
Em nota, as entidades representativas do setor, como a Bioenergia Brasil e a UNICA, destacam que “o Brasil é referência internacional em mobilidade de baixo carbono. Programas estruturantes como o RenovaBio, o Combustível do Futuro e o Mover, demonstram a coerência entre a política energética nacional e os compromissos assumidos pelo país em fóruns multilaterais – especialmente sua adesão ativa ao Acordo de Paris – e reforçam o comprometimento do setor com o desmatamento zero. A escolha do Brasil como sede da COP30 é um reconhecimento concreto desse protagonismo”.
O comunicado acrescenta que o etanol brasileiro, de baixa intensidade de carbono e em conformidade com critérios robustos e auditáveis de sustentabilidade, representa uma das soluções mais eficazes e acessíveis para a descarbonização dos transportes, atendendo às mais rigorosas exigências ambientais e regulatórias nacionais e a padrões globais de certificação.
“Desde 2003, com o lançamento dos veículos flex, a combinação entre o uso de etanol hidratado e a mistura obrigatória de etanol anidro na gasolina evitou a emissão de mais de 730 milhões de toneladas de CO₂ equivalente. Além de sua contribuição ambiental, o setor sucroenergético gera empregos, renda e desenvolvimento regional em mais de mil municípios, sendo peça-chave na transição energética e na economia verde brasileira. Sua relevância social, econômica e ambiental, deve ser reconhecida e protegida”.
A Bioenergia Brasil e a UNICA reafirmaram que o comércio bilateral entre Brasil e EUA, historicamente construído sobre bases de respeito mútuo, precisa ser preservado e fortalecido. Nesse contexto, o etanol é exemplo claro de como uma agenda conjunta pode beneficiar economias, pessoas e o clima global.
O setor sucroenergético nordestino tem potencial para crescer com base na inovação, na sustentabilidade e na integração com o mercado global. Internamente, o Brasil avança com medidas estruturantes, como a adoção da mistura obrigatória de 30% de etanol anidro na gasolina (E30) – uma oportunidade concreta para compensar os possíveis efeitos negativos da nova tarifação imposta pelos Estados Unidos.
Fonte: Forbes